domingo, 13 de setembro de 2015

Comunidades de terreiros e dos povos tradicionais são premiadas


Filha de Oxum, Suzane Barbosa, 31, é ebomi – título de quem completou a formação sacerdotal – do Ilê Maroiálàji também conhecido como Alaketu, localizado em Luiz Anselmo e um dos mais antigos terreiros do estado, fundado na primeira metade do século XIX.

Na comunidade, Suzane é responsável pelo Mimo idana Maròialàjè Alàkètu – Cozinha Sagrada, um dos 31 projetos que serão premiados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na próxima terça-feira.


Bacharel em relações internacionais, ela explica, com entusiasmo, o quanto de conhecimento se passa na cozinha de um terreiro de candomblé e que transcende o preparo do alimento.

“Tem toda uma tradição e um legado”, completa ebomi Suzane, que é neta biológica da célebre ialorixá Olga de Alaketu (1925-2005), que governou o terreiro por 57 anos.

A casa preserva a herança da família real Ojarô, vinda do reino Ketu, na África, e que se tornou, na Bahia, guardiã de uma das histórias de resistência e organização do candomblé. O terreiro, que tem Oxóssi como patrono, é regido pela ialorixá Jocelina Barbosa, filha biológica de Mãe Olga.

“O nosso espaço também funciona como refeitório durante nossas festas, o que acaba por integrar os filhos de santo e as pessoas que vêm ao nosso candomblé”, diz.

É em ações que envolvem a guarda da tradição e criatividade que o Iphan apostou ao criar o prêmio articulado ao Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, encaminhado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que tem status de ministério.

A iniciativa foi organizada em duas categorias: ações de preservação do patrimônio cultural que é tombado pelo Iphan ou está com o processo em curso; e projetos de associações que representam os povos e comunidades tradicionais de várias partes do país.

De acordo com a assessoria de comunicação social da Superintendência do Iphan na Bahia, 157 instituições se candidataram ao prêmio. Destas, 31 foram comtempladas nas duas categorias.

As que venceram no primeiro grupo receberão, cada uma, R$ 40 mil. Já os premiados na segunda categoria receberão R$ 24 mil. O investimento da ação totalizou R$ 840 mil.

Diversidade

Além do terreiro Alaketu, na Bahia, os projetos de Ilê Axé Opô Afonjá (Casa do Alaka); Terreiro Oxumarê (Os cantos que encantaram Pierre Verger); Seja Hundé, que fica em Cachoeira e concorreu com uma ação de mobilização pela liberdade religiosa; e Casa Branca. Esta comunidade apresentou a iniciativa direcionada à imunidade tributária, e todas elas têm reconhecimento como patrimônio pelo Iphan.

Outra comunidade baiana comtemplada com o prêmio é o Tumba Junsara, que está com o processo de reconhecimento pelo Iphan em andamento. O projeto realizado é o inventário dos bens móveis.

Preparo do acarajé terá conselho para salvaguarda

Além da premiação de terreiros e dos povos tradicionais, na próxima terça-feira, em Salvador, também acontecerá, às 10 horas, a posse do Conselho Gestor da Salvaguarda do Ofício de Baiana de Acarajé. A forma tradicional de preparar o bolinho foi reconhecida como patrimônio brasileiro em 2005.

O objetivo do conselho, que reunirá representantes do Iphan, de órgãos públicos estaduais e municipais, e da sociedade civil, é incentivar, por meios de políticas, ações que impeçam a descaracterização da prática.

Em seguida à posse, haverá o lançamento da Plataforma Oýa Digital, um banco de dados que traz informações sobre cadastros vinculados à Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam); da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) de Salvador; e Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab).

Às 19 horas, acontece a entrega do Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. Além dos terreiros de candomblé, serão agraciadas organizações de tradições com umbanda, jurema e batuque sediados em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e outros estados.

As cerimônias acontecerão no Palácio Rio Branco, com a participação do ministro da Cultura, Juca Ferreira, da presidente do Iphan, Jurema Machado, e do superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim.



Jornal A Tarde, página A8, edição de 13/09/2015
Por Cleidiana Ramos