Filha
de Oxum, Suzane Barbosa, 31, é ebomi – título de quem completou a formação
sacerdotal – do Ilê Maroiálàji também conhecido como Alaketu, localizado em
Luiz Anselmo e um dos mais antigos terreiros do estado, fundado na primeira
metade do século XIX.
Na
comunidade, Suzane é responsável pelo Mimo
idana Maròialàjè Alàkètu – Cozinha Sagrada, um dos 31 projetos que serão
premiados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
na próxima terça-feira.
Bacharel
em relações internacionais, ela explica, com entusiasmo, o quanto de
conhecimento se passa na cozinha de um terreiro de candomblé e que transcende o
preparo do alimento.
“Tem
toda uma tradição e um legado”, completa ebomi Suzane, que é neta biológica da
célebre ialorixá Olga de Alaketu (1925-2005), que governou o terreiro por 57
anos.
A
casa preserva a herança da família real Ojarô, vinda do reino Ketu, na África,
e que se tornou, na Bahia, guardiã de uma das histórias de resistência e
organização do candomblé. O terreiro, que tem Oxóssi como patrono, é regido
pela ialorixá Jocelina Barbosa, filha biológica de Mãe Olga.
“O
nosso espaço também funciona como refeitório durante nossas festas, o que acaba
por integrar os filhos de santo e as pessoas que vêm ao nosso candomblé”, diz.
É
em ações que envolvem a guarda da tradição e criatividade que o Iphan apostou
ao criar o prêmio articulado ao Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, encaminhado pela
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que tem
status de ministério.
A
iniciativa foi organizada em duas categorias: ações de preservação do patrimônio cultural que é tombado pelo Iphan ou
está com o processo em curso; e projetos de associações que representam os
povos e comunidades tradicionais de várias partes do país.
De acordo com a assessoria de comunicação social da
Superintendência do Iphan na Bahia, 157 instituições se candidataram ao prêmio.
Destas, 31 foram comtempladas nas duas categorias.
As que venceram no primeiro grupo receberão, cada uma, R$ 40
mil. Já os premiados na segunda categoria receberão R$ 24 mil. O investimento
da ação totalizou R$ 840 mil.
Diversidade
Além do terreiro Alaketu, na Bahia, os projetos de Ilê Axé
Opô Afonjá (Casa do Alaka); Terreiro Oxumarê (Os cantos que encantaram Pierre
Verger); Seja Hundé, que fica em Cachoeira e concorreu com uma ação de
mobilização pela liberdade religiosa; e Casa Branca. Esta comunidade apresentou
a iniciativa direcionada à imunidade tributária, e todas elas têm
reconhecimento como patrimônio pelo Iphan.
Outra comunidade baiana comtemplada com o prêmio é o Tumba
Junsara, que está com o processo de reconhecimento pelo Iphan em andamento. O
projeto realizado é o inventário dos bens móveis.
Preparo
do acarajé terá conselho para salvaguarda
Além da premiação de terreiros e dos povos tradicionais, na
próxima terça-feira, em Salvador, também acontecerá, às 10 horas, a posse do
Conselho Gestor da Salvaguarda do Ofício de Baiana de Acarajé. A forma
tradicional de preparar o bolinho foi reconhecida como patrimônio brasileiro em
2005.
O objetivo do conselho, que reunirá representantes do Iphan,
de órgãos públicos estaduais e municipais, e da sociedade civil, é incentivar,
por meios de políticas, ações que impeçam a descaracterização da prática.
Em seguida à posse, haverá o lançamento da Plataforma Oýa
Digital, um banco de dados que traz informações sobre cadastros vinculados à Associação
Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam); da
Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) de Salvador; e Federação Nacional
do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab).
Às 19 horas, acontece a entrega do Prêmio Patrimônio Cultural
dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. Além dos terreiros de
candomblé, serão agraciadas organizações de tradições com umbanda, jurema e
batuque sediados em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e outros estados.
As cerimônias acontecerão no Palácio Rio Branco, com a
participação do ministro da Cultura, Juca Ferreira, da presidente do Iphan,
Jurema Machado, e do superintendente do
Iphan na Bahia, Carlos Amorim.
Jornal
A Tarde, página A8, edição de 13/09/2015
Por Cleidiana
Ramos