sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Conjunto arquitetônico e paisagístico de Mucugê (Ba) completa 35 anos de tombado pelo Iphan


Mucugê, importante conjunto urbano da Chapada Diamantina, completa neste sábado, dia 26 de setembro, 35 anos de tombado pelo Iphan e inscrito no Livro do Tombo Arquelógico, Etnográfico e Paisagístico. O conjunto arquitetônico e paisagístico de características vernaculares, representativo da urbanização tradicional do interior do Brasil e especialmente da Bahia, embasaram e motivaram a sua proteção. No processo de tombamento constam pareceres favoráveis em que são salientados a homogeneidade do conjunto, a qualidade da arquitetura popular, a integridade e a existência de dois elementos excepcionais: o cemitério bizantino e os casarões coloniais, a maioria edificados em adobes ou pedras.


Trata-se de uma cidade de tipologia simples, mononuclear, desenvolvida segundo uma matriz em “L”, com um traçado semi-irregular adequado para se ajustar ao vale em que está localizada. Seu conjunto arquitetônico é formado por sobrados e casas térreas, originárias de meados e final do século passado. As ruas e praças calçadas em pedras tipo “cabeça de nego” e/ou paralelepípedos formam o sistema viário da cidade, que apesar de disposto com relativa irregularidade, guarda uma simplicidade que lhe é de todo inerente. Destaca-se ainda o Cemitério Santa Isabel devido ao estilo bizantino e distribuição estética de seus túmulos, além da sua notável integração com a paisagem do sítio onde se acha erigido.


Cemitério Santa Isabel, único de estilo Bizantino do Brasil

“Mucugê, reluzente como os diamantes brotados de suas serras, atravessou os séculos trazendo a realização do grande desafio de crescer sem alterar o seu passado”, ressalta a arquiteta e urbanista Angélica Schianta, chefe de escritório técnico do Iphan, em Rio de Contas. Responsável por Mucugê e mais 50 cidades da Chapada Diamantina, Angélica faz questão de destacar que os mucugeenses, sem modéstia do rico patrimônio que possui, sempre ajudou a protegê-lo, conservá-lo e defendê-lo.

Angélica Schianta informou que quaisquer intervenções propostas para o conjunto protegido e o seu entorno devem levar em conta a preservação, a valorização e a qualificação do conjunto arquitetônico e urbanístico, e dependem de autorização do Iphan. Cita que para a preservação arquitetônica são vetadas: alteração na implantação original das edificações e dos seus lotes; reformas que impliquem na alteração das fachadas; substituição da estrutura da cobertura que altere a sua volumetria, o ponto da cumeeira e a sua inclinação; colocação, total ou parcial, de azulejos contemporâneos, cerâmicas, pedras ou qualquer outro tipo de material de revestimento nas faces externas do bem; a retirada e/ou alteração dos elementos decorativos originais; colocação nas fachadas de jardineiras, gradis, portões de alumínio, marquises, frisos, molduras, cunhais, aparelhos de ar condicionados, reservatórios de água expostos na cobertura ou qualquer outro descaracterizante, que possa apresentar um falso estético ou histórico, dentre outros. 


A Igreja de Santa Isabel foi inaugurada em 9 de março de 1855

A cidade atual, que ocupa uma área de 44 hectares  e possui cerca de 355 prédios urbanos, está integralmente conservados. Nos últimos anos, o patrimônio histórico recebeu investimentos do Iphan, que envolveram  mais de R$ 1,2 milhão. A última intervenção realizada foi na Igreja Matriz de Santa Isabel que, além de obras de conservação, foi totalmente restaurados os bens móveis e integrados do monumento histórico.
  
Mucugê testemunhou a fase áurea da exploração de diamantes na Bahia

A povoação de Mucugê surgiu em meados do século XIX. José Pereira do Prado, também conhecido como Cazuza do Prado, influente “pedrista” da Chapada Diamantina, tendo notícia através de um empregado da descoberta de diamantes no rio Mucugê, enviou ao local uma caravana, onde chegou em setembro de 1844. Rapidamente se formou uma povoação de 12 mil habitantes em terrenos que pertenceram primitivamente ao Sargentor-Mor Francisco da Rocha Medrado.

Apelidada de “Joia da Chapada Diamantina”, Mucugê foi a primeira localidade baiana onde foram encontrados diamantes de valor real. Em 17 de maio de 1847 foi criado a freguesia de São João do Paraguaçu, a vila e o município que se chamou originalmente de Santa Isabel do Paraguaçu. Em 1890, foi elevada a cidade e a sua atual denominação de Mucugê data de 23 de agosto de 1917.

Fonte: Ascom – Iphan - Ba