Mucugê,
importante conjunto urbano da Chapada Diamantina, completa neste sábado, dia 26
de setembro, 35 anos de tombado pelo Iphan e inscrito no Livro do Tombo
Arquelógico, Etnográfico e Paisagístico. O conjunto arquitetônico e
paisagístico de características vernaculares, representativo da urbanização
tradicional do interior do Brasil e especialmente da Bahia, embasaram e
motivaram a sua proteção. No processo de tombamento constam pareceres
favoráveis em que são salientados a homogeneidade do conjunto, a qualidade da
arquitetura popular, a integridade e a existência de dois elementos
excepcionais: o cemitério bizantino e os casarões coloniais, a maioria edificados em adobes ou pedras.
Trata-se
de uma cidade de tipologia simples, mononuclear, desenvolvida segundo uma
matriz em “L”, com um traçado semi-irregular adequado para se ajustar ao vale
em que está localizada. Seu conjunto arquitetônico é formado por sobrados e
casas térreas, originárias de meados e final do século passado. As ruas e
praças calçadas em pedras tipo “cabeça de nego” e/ou paralelepípedos formam o
sistema viário da cidade, que apesar de disposto com relativa irregularidade,
guarda uma simplicidade que lhe é de todo inerente. Destaca-se ainda o Cemitério
Santa Isabel devido ao estilo bizantino e
distribuição estética de seus túmulos, além da sua notável integração com a paisagem
do sítio onde se acha erigido.
Cemitério Santa Isabel, único de estilo
Bizantino do Brasil
“Mucugê, reluzente como os
diamantes brotados de suas serras, atravessou os séculos trazendo a realização
do grande desafio de crescer sem alterar o seu passado”, ressalta a arquiteta
e urbanista Angélica Schianta, chefe de escritório técnico
do Iphan, em Rio de Contas. Responsável por Mucugê e mais 50 cidades da Chapada
Diamantina, Angélica faz questão de destacar que os mucugeenses, sem modéstia do
rico patrimônio que possui, sempre ajudou a protegê-lo, conservá-lo e
defendê-lo.
Angélica
Schianta informou
que quaisquer
intervenções propostas para o conjunto protegido e o seu entorno devem levar em
conta a preservação, a valorização e a qualificação do conjunto arquitetônico e
urbanístico, e dependem de autorização do Iphan.
Cita que para a preservação arquitetônica são vetadas: alteração na implantação
original das edificações e dos seus lotes; reformas que impliquem na alteração
das fachadas; substituição da estrutura da cobertura que altere a sua
volumetria, o ponto da cumeeira e a sua inclinação; colocação, total ou
parcial, de azulejos contemporâneos, cerâmicas, pedras ou qualquer outro tipo
de material de revestimento nas faces externas do bem; a retirada e/ou
alteração dos elementos decorativos originais; colocação nas fachadas de
jardineiras, gradis, portões de alumínio, marquises, frisos, molduras, cunhais,
aparelhos de ar condicionados, reservatórios de água expostos na cobertura ou
qualquer outro descaracterizante, que possa apresentar um falso estético ou
histórico, dentre outros.
A Igreja de Santa Isabel foi inaugurada em 9 de março de
1855
A
cidade atual, que ocupa uma área de 44 hectares
e possui cerca de 355 prédios urbanos, está integralmente conservados. Nos
últimos anos, o patrimônio histórico recebeu investimentos do Iphan, que
envolveram mais de R$ 1,2 milhão. A última intervenção realizada foi
na Igreja
Matriz de Santa Isabel que, além de obras de conservação, foi totalmente
restaurados os bens móveis e integrados do monumento histórico.
Mucugê testemunhou a fase áurea da exploração
de diamantes na Bahia
A
povoação de Mucugê surgiu em meados do século XIX. José Pereira do Prado,
também conhecido como Cazuza do Prado, influente “pedrista” da Chapada Diamantina,
tendo notícia através de um empregado da descoberta de diamantes no rio Mucugê,
enviou ao local uma caravana, onde chegou em setembro de 1844. Rapidamente se
formou uma povoação de 12 mil habitantes em terrenos que pertenceram
primitivamente ao Sargentor-Mor Francisco da Rocha Medrado.
Apelidada de “Joia da Chapada Diamantina”, Mucugê foi a primeira
localidade baiana onde foram encontrados diamantes de valor real. Em 17 de maio
de 1847 foi criado a freguesia de São João do Paraguaçu, a vila e o município
que se chamou originalmente de Santa Isabel do Paraguaçu. Em 1890, foi elevada
a cidade e a sua atual denominação de Mucugê data de 23 de agosto de 1917.
Fonte:
Ascom – Iphan - Ba