MIUDINHAS
GLOBAIS DO SITE BAHIA JÁ, COM TASSO FRANCO
1. Segmentos da oposição e 'ativistas caviar' têm criticado a derrubada
de algumas casas e sobrados nas ladeiras da Montanha e da Preguiça, nada de
valor histórico representativo, ainda que se tivessem recursos para reformá-los
seria o ideal. O Iphan admite que existem 100 casarões em estado de pré-ruína no Centro Histórico de Salvador e caberia aos seus proprietários restaurá-los.
2. Essa é uma questão que se arrasta há centurias na capital baiana e as
providências são minimas. Muitos dos proprietários preferem deixar os casarões ruírem a fazerem investimentos do seu bolso. Na Ladeira da Conceição da Praia
existem pelo menos uns 5 ou 6 casarões nessas condições. Um deles, inclusive já
está com o mato saindo pelas janelas há muitos anos.
3. É emblemática a queda dos casarões 32 e 34 do corredor da Conceição da
Praia, sitos, ao lado direito da Basílica da Conceição. Depõe contra qualquer
bom senso, assusta os turistas, deprime, revela o abandono de parte do Centro
Histórico de Salvador. Ainda assim, com esses percalços e a histórica falta de
verbas para o Iphan o instituto investe, hoje, algo em torno de R$70 milhões na
recuperação de 7 monumentos e espera no total R$143 milhões para restaurar 23
projetos.
4. Claro que é pouco diante da dimensão do desastre. Infelizmente, o
governo não enxerga o patrimônio histórico das cidades brasileiras com a mínima
prioridade e investe (ou enterra) R$8.2 bilhões na transposição de águas do Rio
São Francisco, quando poderia, se fosse o caso, restaurar esses prédios em
Salvador. Cada qual tem sua dimensão, pero, se existe essa dinheirama para
transpor águas de um rio, deve haver recursos para o Iphan.
5. Como o que tem, o Iphan restaura a Igreja da Ordem 3ª de São Domingos
de Gusmão, o Palácio Arquiepiscopal da Praça da Sé, a Igreja do Santíssimo
Sacramento da Rua do Passo, o Forte de São Marcelo (1ª etapa), catedral
basílica, casarão anexo ao Plano Inclinado Gonçalves e casarões 32 e 34 da rua
da Conceição da Praia. Pode parece pouco, pero, já é alguma coisa. Há, no
entanto, muito a ser feito.
6. Desses prédios, vale lembrar que a basílica da Conceição da Praia foi
a primeira igreja construída a mando de Thomé de Souza, 1º governador Geral do
Brasil (1549-1553) e esta área representa o inicio da cidade nas proximidades
da Ribeira do Góis, res-ao-chão da Baía de Todos os Santos, área de chegada e
partida de todas as naus que levaram Salvador a ser o porto mais importante das
Américas durante o período colonial até 1763, quando a sede da colônia é
transferida para o Rio de Janeiro.
7. O Palácio Arquiepiscopal é o monumento mais majestoso e bonito da
Praça da Sé. Até a década de 1960, o arcebispo primaz da Bahia ainda despachava
neste local. Depois passou a fazê-lo no palacete do Campo Grande onde estive
algumas vezes com dom Lucas Moreira Neves na época em que era secretário de
Comunicação da Prefeitura. Depois, quando ele faleceu, escrevi seu
panegírico.
8. O palácio da Sé tem história. Os antigos bispos da Bahia chegaram a
morar por lá e há uma rua que sai do São Francisco à Sé que se chama Rua do
Bispo. Isso porque, os bispos andavam por essa rua até chegar ao palácio. Ao
lado deste palácio está a sede do antigo Cine Excelsior e depois o prédio da
Coelba onde foi o antigo Colégio dos Jesuítas, derrubado pelas 'picaretas do
progresso'.
9. Um terceiro monumento é a Igreja da Ordem 3ª de São Domingos de
Gusmão. Trata-se de um conjunto belíssimo que ocupa ponta-a-ponta a linha Norte
do Terreiro de Jesus. São Domingos não é um santo muito cultuado em Salvador.
Em tempos idos décadas de 50/60 era num dos espaços desse templo que Cosme de
Farias atendia os pobres desta cidade nas suas defesas como rábula. São
Domingos é um santo muito popular na América Espanhola, especialmente em Santo
Domingo ( o 1º local descoberto pelos europeus na América) e na Colômbia.
10. A Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo recebe
investimentos de R$8 milhões e é outro local admirável, ainda que pouco
frequentado pelos baianos. O Forte de São Marcelo e a Catedral dispensam
apresentações. Só lembrando, no entanto, o templo jesuítico da Praça da Sé é o
mais representativo desta ordem na Bahia, a primeira que aqui chegou sob o
comando de Manoel da Nóbrega.
11. Então, vamos valorizar o Iphan, pois, sem ele, nascido no Brasil
graças a uma ação emanada da Bahia quando da derrubada da Sé Primacial - única
igreja que tinha o frontispício voltado para a Baía de todos os Santos - seria
bem pior.
Foto: BJÁ
07/06/2015