sexta-feira, 21 de março de 2014

Os arcos e as muralhas da encosta do Centro Histórico de Salvador serão recuperados e requalificados pelo PAC Cidades Históricas

 
 

As edificações são tombados em nível federal desde 1984 e estão situadas dentro da poligonal de preservação rigorosa

 
Os arcos e as muralhas da encosta, que integram o conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do Centro Histórico de Salvador, serão restaurados e readequados pelo PAC Cidades Históricas. Com o objetivo de contratar os projetos executivos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico na Bahia (IPHAN-BA) realizará licitação, no dia 15 de abril. As edificações estão inseridas na poligonal de tombamento do IPHAN desde 1984 e em área de proteção rigorosa, segundo Lei Municipal.


Localizados na Ladeira da Conceição da Praia, os arcos têm relevância histórica, e chama a atenção seu precário estado de conservação, com destaque para o arruinamento acelerado do revestimento externo e interno, deficiência das instalações elétrica e hidrossanitárias, proliferação de fungos, infestação por insetos xilófagos, trazendo por consequência insalubridade ao seu interior. Há também graves patologias no sistema estrutural de apoio aos pisos dos mezaninos.

 
“A intervenção na sua estrutura física visa proporcionar melhor atendimento à comunidade e aos turistas no que diz respeito à sua funcionalidade e atrativo turístico, destaca o superintendente do IPHAN na Bahia, Carlos Amorim. Ele inforou que as medidas propostas pelo Instituto devem respeitar ao máximo as características originais do monumento e promover adaptações e requalificações dos espaços internos, possibilitando o uso das edificações com as melhorias do mundo contemporâneo, visando a implantação de residência artística.

 
Já as muralhas do Centro Histórico, localizadas nas Ladeiras da Montanha e da Misericórdia, apresentam patologias que ainda não chegam a agravar a sua estrutura como um todo, porém vem progredindo há anos e podem causar futuros colapsos. Estão previstos uma intervenção de reparo de seu sistema de drenagem, recomposição das brechas causadas pela desagregação e ação do tempo, além de uma repaginação da vegetação presente, através de um projeto paisagístico, bem como a criação de uma iluminação especial de toda a área.

 

A muralha de contenção da encosta trata-se de um muro de arrimo em pedra bruta com contrafortes de pedra e, em alguns trechos, estruturados em arcos. “Em vista da situação precária em que se encontra a muralha de contenção da cidade alta no sítio histórico, considera-se que a intervenção restaurativa deverá se efetivar o mais breve possível para evitar perdas irreparáveis para o patrimônio cultural”, disse Carlos Amorim.

 
ORIGENS

 
Arcos da Ladeira da Montanha

Nas primeiras décadas do século XIX, deu início ao processo de urbanização das encostas da montanha que separa as Cidades Alta e Baixa, visando impedir os sucessivos deslizamentos e desabamentos nas encostas e conter sua ocupação. As obras de contenção foram realizadas entre as décadas de 1850 e 1860, que, dentre outros benefícios, deram forma definitiva às Ladeiras da Conceição e Misericórdia.

 
Essenciais rotas de ligação entre a praia e a cumeada, as duas ladeiras eram, no entanto, extremamente íngremes tornando árdua a subida de pessoas e animais com carga. Em virtude disso, em 1878, optou-se pela construção de uma ladeira de inclinação mais suave. Assim, o presidente em exercício Barão Homem de Melo contratou os serviços da Empresa de Transportes Urbanos de Antônio de Lacerda que, sobre a Ladeira da Conceição, e construiu os 23 arcos, feitos de pedra, que dão sustentação à Ladeira Barão Homem de Melo - conhecida popularmente como Ladeira da Montanha.

 
Originalmente abertos, estes arcos foram ocupados aos poucos pela população local que instalou ali pequenos comércios de solda, carpintaria, marmoraria, dentre outros e até mesmo algumas moradias, funcionando até os dias de hoje. A última restauração dos edifícios localizados nos Arcos da ladeira aconteceu no ano de 1991.

 
Muralhas do frontispício da Cidade Alta/Cidade Baixa

As muralhas começaram a ser construídas no dia 1º de abril de 1549, todas em taipa de pilão, para defender a cidade de Salvador e proporcionar a segurança de seus novos habitantes. Com o passar dos anos, os paredões foram se desenvolvendo e ruindo em consequência da sua implantação em área sujeita a deslizamentos em razão das abundantes chuvas.

 

Para reforçar a segurança, os portugueses construíram uma nova muralha, partindo da Misericórdia e se estendendo até a atual Praça Castro Alves. Media aproximadamente 1100 metros, sendo 366 metros para o lado de terra; 366 metros para o lado do mar; 99 metros para o lado do sul, vértice de conformação triangular da cidade, e 269 metros para o lado Norte, sua base.

 
O constante alargamento da cidade ao norte e ao sul obrigava o Governo a redefinir de quando em quando os limites amuralhados da cidade, e isso vai perdurar até o final do século XVIII, quando da derrubada definitiva das Portas da cidade.

 
PAC Cidades Históricas

 
Mais do que conservar imóveis tombados, o PAC Cidades Históricas privilegiará, em vários estados brasileiros, a recuperação de edificações destinadas às atividades que favoreçam a vitalidade dos sítios históricos. Entre as 425 obras beneficiadas, 115 serão em imóveis que abrigam equipamentos culturais, como teatros, cinemas e bibliotecas, além dos 39 museus cujos edifícios também serão recuperados pelo Programa. Serão destinados R$ 1,6 bilhão em 44 cidades de 20 estados brasileiros.

 
Os projetos preveem restaurações e requalificações. A restauração implica o conserto e reparo de estruturas e objetos desgastados pelo uso e pelo tempo conservando suas características originais da forma mais fiel possível. A requalificação geralmente envolve as áreas externas, como praças e ruas, e visa agregar mais conforto, iluminação, segurança, beleza e qualidade de vida ao espaço público.

 
ARCOS  DA MONTANHA LOCALIZADOS NA LADEIRA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA

 

 








MURALHAS DA ENCOSTA LOCALIZADAS NAS LADEIRAS DA MONTANHA E DA MISERICÓRDIA
 












Fotos: Relatório técnico fotográfico, de fevereiro/2014, realizado pelo IPHAN-BA

Fonte: Ascom - IPHAN-BA