quarta-feira, 8 de abril de 2015

Fortes baianos na Lista Indicativa do Patrimônio Mundial da Unesco


A documentação foi analisada e as candidaturas apresentadas foram todas aprovadas sem qualquer reparo ou questionamento

O conjunto de fortificação de Salvador foi incluído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na Lista Indicativa brasileira do Patrimônio Mundial de 2015. A iniciativa do governo brasileiro, por intermédio do Iphan, abrange os fortes de Santo Antônio da Barra, São Diogo, São Marcelo, Santa Maria, e de Nossa Senhora de Mont Serrat. Futuramente, poderão ser avaliados pelo Comitê do Patrimônio Mundial e receberem o título de Patrimônio Mundial.


A presidente do Iphan, Jurema Machado, deu conhecimento aos membros do Comitê Gestor do Instituto, sobre a posição oficial do Secretariado da Convenção do Patrimônio Mundial/UNESCO, quanto à proposta apresentada para a Atualização da Lista Indicativa Brasileira, a qual foi enviada recentemente ao Centro do Patrimônio Mundial. As propostas foram discutidas em oficinas e trabalhadas pelas Superintendências envolvidas e pela Assessoria de Relações Internacionais (ARIN/Iphan), em 2014/2015. A documentação foi analisada pelo Secretariado e pelo Órgão Consultivo, cujas candidaturas apresentadas foram todas aprovadas sem qualquer reparo ou questionamento.

A Lista Indicativa brasileira, que consta de 24 bens no total, funciona como um instrumento de planejamento de preparação de candidaturas, assemelhando-se a um inventário, e é composta pela indicação de bens culturais, naturais e mistos, apresentados pelos países que ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco. “Essa iniciativa pode ensejar a participação de gestores de sítios, autoridades locais e regionais, comunidades locais, ONGs e outros interessados na preservação do patrimônio cultural e natural do país, destacou o assessor da ARIN/Iphan, Marcelo Brito. Na lista estão os Geoglifos do Acre (AC), Teatros da Amazônia (AM, PA), Itacoatiaras do Rio Ingá (PB), Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (CE), Sítio Roberto Burle Marx (RJ) e o Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN).

Conjunto de Fortificações do Brasil

O conjunto de fortificações do Brasil apresenta-se como um testemunho material único de um contato produzido entre diferentes culturas do Velho e do Novo Mundo. As fortificações, edificadas em resposta a esses contatos, marcam o sucesso de uma fórmula singular de ocupação do território, onde os moradores do Brasil tiveram um papel mais fundamental do que a ação dos governos das metrópoles do Velho Mundo, ao contrário do que ocorreu em outras colônias europeias no resto do mundo.

As construções feitas com o objetivo de garantir a posse e a segurança dos novos territórios formam um conjunto sem semelhança a outros sistemas fortificados edificados no mesmo período em outros lugares do mundo, tendo um importante papel na ocupação territorial da América do Sul.

Na lista, a Bahia comparece com o maior número de fortes. Também serão contemplados a Fortaleza de São José, em Macapá (AP); o Forte Coimbra, em Corumbá (MS); Forte de Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO); a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal (RN); o Forte de Santa Catarina, em Cabedelo (PB); o Forte de Santa Cruz (Forte Orange), em Itamaracá (PE); o Forte São João Batista do Brum, no Recife (PE); o Forte São Tiago das Cinco Pontas, no Recife (PE); a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói (RJ); a Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro (RJ); a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá (SP); o Forte São João, em Bertioga (SP); a Fortaleza de Santa Cruz de Anhantomirim, em Governador Celso Ramos (SC); e o Forte de Santo Antônio de Ratones, em Florianópolis (SC).

Fortes baianos


Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat construído em 1582, é um forte de transição, com algumas características de um castelo Medieval, com seus grandes torreões nos ângulos salientes, mas tendo uma plataforma já adaptada ao uso de canhões e um quartel exposto na parte posterior das muralhas. Participou de combates contra corsários ingleses e holandeses em 1587, 1599, 1604 e 1627. Foi tomado pela frota da Companhia das Índias Ocidentais Holandesa em 1624, servindo de ponto de resistência dos neerlandeses contra os habitantes locais, no cerco feito pelos moradores de Salvador. Retomado em 1625, seria novamente atacado e tomado por um curto espaço de tempo pelos holandeses em 1638, participando ainda dos combates contra as frotas da Companhia das Índias Ocidentais, em 1647. Nesses períodos de conflito, sempre foi guarnecido por milícias de moradores baianos. É administrada atualmente pelo Exército. Tombamento federal de 1957.



Forte de Santo Antônio da Barra é um decágono irregular em tenalhas, com um grande quartel sobre suas muralhas. Edificado no lugar da segunda povoação lusitana de Salvador, erguida em 1534, mas que teve que ser evacuada por causa da resistência dos nativos, foi reerguido a partir de 1582, logo após a União das Coroas de Portugal e Espanha (1580-1640), quando o risco de um ataque das potências europeias aumentou muito. Fazia parte das defesas complementares de Salvador, tendo participado dos combates contra os corsários ingleses e holandeses, que marcaria a história da cidade no final do século XVI e início do XVII. Hoje em dia é um museu da Marinha. Tombamento federal de 1938.



Forte de Santa Maria, em 1625 uma frota, com mais de dez mil homens, de tropas espanholas, italianas e portuguesas veio para Salvador, para retomar a cidade, ocupado pelas forças da Companhia das Índias Ocidentais Holandesa, pois se considerava a Bahia como a chave da colônia lusitana nas Américas. O primeiro forte de Santa Maria foi 4 erguido logo depois da reconquista, para defender o pequeno porto, onde os holandeses tinham desembarcado no ano anterior e que foi novamente usado para atacar a cidade em 1625. A obra atual é resultado de uma reconstrução de 1694, tendo o formato de um retângulo com muralhas em uma linha de tenalhas muito suave e um quartel elevado sobre as muralhas, como é típico da arquitetura militar da Bahia. Pertence ao Exército, que a mantém. Tombamento federal de 1938.



Forte de São Diogo, parte do complexo barra de Salvador, junto com os de Santo Antônio e Santa Maria, também foi erguido em 1625 e reconstruído em 1694, na forma de uma bateria semicircular, com seu quartel na encosta do morro onde está situado e onde foi fundada a primeira povoação portuguesa da Bahia. Esta teve que ser abandonada em 1534, por causa da resistência dos nativos. Na pequena enseada na sua frente desembarcaram os holandeses em 1624 e as forças hispano-ítalo-lusitanas no ano seguinte, que lhes expulsaram os holandeses. É propriedade do Exército. Tombamento federal de 1954.



Forte São Marcelo, conhecido como Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo ou como Forte do Mar. Foi construído afastado da costa por receio dos portugueses de novas invasões holandesas. Sua função era impedir a entrada no porto de Salvador, cruzando fogo com os fortes de São Francisco, São Felipe e São Paulo da Gamboa. Influenciado pelo desenho do Forte do Bugio, na barra do Tejo, sua construção se estendeu até o século XVIII, tendo dela participado o engenheiro francês Felipe Guiton e seu conterrâneo o engenheiro Pedro Garcin. A planta circular é constituída por um torreão central envolvido por um anel de igual altura, formado pelo terrapleno perimetral e quartéis. Em cantaria de arenito, possui teto em abóboda de berço. Trata-se do único exemplar ainda existente de forte circular no país. É de propriedade do IPHAN, que está promovendo obras de restauração no monumento. Tombamento Federal de 1938.

Confira a Lista Indicativa Brasileira do Patrimônio Mundial de 2015,  na íntegra aqui 

Fotos: reprodução

Fonte: Ascom – Iphan - Bahia