quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Aprovado tombamento de Terreiro Roça do Ventura, de Cachoeira (BA)


O Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde é considerado bem cultural de importância significativa para a história religiosa brasileira

Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja, também conhecido como Roça do Ventura, de Cachoeira (BA), é o mais novo bem considerado Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural foi tomada hoje (04 de dezembro), na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. O Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde é responsável pela preservação de umas das tradições religiosas de matriz africana, da liturgia do Candomblé de nação Jeje-Mahi originaria nos cultos às divindades chamadas Vodum. O Seja Unde tem fundamental importância na conformação da rede de terreiros do Recôncavo Baiano e, sobretudo, para a formação histórica do Candomblé como uma instituição religiosa.


O superintendente do IPHAN na Bahia, Carlos Amorim, que participou da reunião do Conselho, ressaltou que o Terreiro Roça do Ventura é um bem cultural de importância significativa para a história religiosa brasileira. “Além disso, os tombamentos e outras ações voltadas para a cultura afro-brasileira reafirmam a postura do IPHAN na mudança de conceito sobre o que é patrimônio cultural, que inclui todas as manifestações que contribuíram para a formação do país e da sociedade brasileira ao longo dos séculos”, completou Amorim.

A solicitação para o tombamento da casa de candomblé matricial de tradição jeje-mahi foi feita pela então presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde, Alaíde Augusta da Conceição, a veneranda vodunce Alaíde de Oyá, em dezembro de 2008 e reinterado, em 2009, pelo atual presidente da Sociedade Religiosa Zogbodo Male Bogun Seja Unde e Ogã da casa, Edvaldo de Jesus Conceição, o Buda.

A importância e simbologia da Roça do Ventura no contexto da tradição Jeje para a história do candomblé no Brasil é amplamente destacada em vários estudos antropológicos e sociológicos que tratam da questão religiosa e no país. Entre os trabalhos estão Brancos e Pretos na Bahia (Estudo de contacto racial), escrito na cidade de Salvador entre os anos de 1935-1937 por Donald Pierson e publicado originariamente em 1942, com várias reedições; Afro-Brazilian Culture and Politics: Bahia, 1970s to 1990s, de Hendrik Kraay; Gaiaku Luiza e a Trajetória do Jeje-Mahi na Bahia, de Marcos Carvalho; A Formação do Candomblé: História e Ritual da Nação Jeje na Bahia, de Luis Nicolau Pares.

O Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde

A ocupação da Roça do Ventura teve início em 1858. O terreiro Zogbodo abrange um sítio natural e elementos edificados, além de árvores referenciais dos ritos Jeje, como as Casas de Hospedagem; Oiá (Altar); Peji (cerimonial), com salão, ronco e cozinha sagrada; Casa dos Antepassados; Fonte de Oxum; Poço; Ponte e Instalações Sanitárias. As Árvores Sagradas existentes no local são Nana, Tiriri, Ogum Eroquê, Avequité, Zogbo, Bessém, Ogum, Ajuzum, Lokó, Badé, Aqué e Parara. Também fazem parte do conjunto o Riacho Caquende – Odé e as margens Aziri e Avinagé.



Novos bens protegidos pelo Iphan

A 77ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio realizada nesta quinta (04), também aprovou o registro como Patrimônio Cultural do Maracatu Nação, o Maracatu Rural, o Cavalo-Marinho, de Pernambuco; a Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani, do Sitio São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul; a Coleção Geyer, no Rio de Janeiro (RJ); o Acervo do Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte (MG).

Este ano, o Conselho Consultivo esteve reunido em maio, quando aprovou o registro como Patrimônio Cultural Brasileiro da Produção Tradicional e Práticas Socioculturais Associadas à Cajuína no Piauí e os tombamentos de Estabelecimentos das Fazendas Nacionais do Piauí: Fábrica de Laticínios, em Campinas do Piauí, e Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, em Floriano, também do Piauí; além do tombamento da Casa Grande e Tulha da antiga Chácara do Paraíso das Campinas Velhas, em Campinas (SP), e do Sítio da antiga fazenda de Santo Inácio de Campos Novos, do Distrito de Tamoios, em Cabo Frio (RJ). Em setembro de 2014, passaram a integrar o Patrimônio Cultural Brasileiro o Carimbó, do Pará; a Igreja São Judas Tadeu em Vargem (SC), como integrante do chamado Roteiros Nacionais de Imigração; seis fortificações construídas entre os séculos XVII e XX, localizadas nos municípios de Óbido, no Pará; Rosário, no Maranhão; Bonfim, em Roraima, Corumbá e Ladário, no Mato Grosso do Sul.


O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural

O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Icomos, a Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus – Ibram, a Associação Brasileira de Antropologia – ABA, e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

Fonte: Ascom - IPHAN