Projeto
de requalificação dos Arcos da Montanha prevê reforma de fachada e interiores
Marca registrada da Ladeira da Conceição desde o século XIX, os
Arcos da Montanha vão passar por uma requalificação total, em breve. O projeto,
desenvolvido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan), foi
finalizado na semana passada.
Fonte: Jornal Correio – 25/12/2014
“Os arcos
foram feitos com a melhor tecnologia da época, mas estão em um estado absurdo
de degradação. Essa é uma obra que beneficia não apenas a sociedade, mas
diretamente as pessoas que estão ali, porque vai trazer mais segurança e
qualidade de vida e de trabalho”, explica o superintendente do Iphan na Bahia,
Carlos Amorim.
O prazo
para que a requalificação dos arcos seja concluída é de 12 meses. No entanto,
não há uma previsão de quando as intervenções devem começar, já que o início
espera acordo da prefeitura com os ocupantes dos arcos (veja abaixo), segundo o
superintendente. Enquanto isso não for definido, a licitação para escolher a
empresa que fará a reforma não pode ser lançada.
“Estamos
aguardando esse acordo, porque os ocupantes tradicionais precisam sair
provisoriamente e retornar depois, porque é impossível fazer essa obra por
etapas. Isso tornaria o custo extremamente elevado, então precisamos fazer
todos os serviços de cada tipo de uma só vez”, explicou Amorim. “Eles (os
arcos) estão interligados de alguma forma, por isso, se mexer em um só, pode
ter consequências para todos os outros”, complementou.
A reforma
faz parte da recuperação do frontispício de Salvador e deve custar R$ 3,5
milhões, com recursos do PAC Cidades Históricas, programa do governo federal.
Conceito
Dos 17
arcos existentes, dois são fechados e nunca foram ocupados (os dois à esquerda,
nas imagens ao lado). Eles devem continuar assim, mas a estrutura deve ser
recuperada, especialmente com sustentação e conserto de eventuais rachaduras e
fissuras.
Já os
outros 15 arcos — que estão ocupados — terão toda a parte elétrica, hidráulica
e sanitária reformada (só para dar uma ideia, hoje, a maioria dos arcos tem
instalações improvisadas, feitas pelos próprios ocupantes). Além disso, a
estrutura também vai mudar: os imóveis vão ganhar mezaninos, cozinhas, escadas,
bem como áreas comerciais e industriais.
“É
um projeto de restauro. Reconstruímos cada escada, andar onde puder ter, e a
parte de se trabalhar propriamente dita”, afirmou Carlos Amorim. Existe um
padrão para todos os arcos, segundo o coordenador do PAC Cidades Históricas na
Bahia, Mário Vitor Bastos. “Claro que cada projeto é único, mas dentro do mesmo
conceito, a fim de melhorar a situação lá”, disse.
Logo após
os dois arcos fechados, vêm outros quatro imóveis que passarão pelas mudanças
mais radicais. Esses arcos, segundo o superintendente do Iphan, foram
descaracterizados ao longo dos anos. Por isso, vão ganhar uma fachada diferente
dos outros.
“Estamos
propondo uma recomposição da leitura original, mas com uma linguagem
contemporânea. Vamos fazer sacadas, varandas e refazer escadarias. A escada de
um deles (o Arco 26), inclusive, já até desabou”, conta Amorim.
A
marmoraria que fica logo embaixo dos arcos finais também será reformada.
Enquanto isso, a casa (um imóvel verde que pode ser visto nas fotos atuais) que
fica ao lado deve deixar de existir. “A marmoraria vai ficar na parte moderna e
a pessoa que vive na casa poderá voltar para um arco recuperado, salubre, com
condições de ser habitado”, explicou o superintendente.
Usos
Se tem uma
coisa que o Iphan garante é que o uso original dos arcos - a sustentação da
Ladeira da Montanha - não vai mudar. Além disso, ainda que os 15 arcos ganhem
um ar mais moderno, a tradição também deve ser preservada. “A proposta é unir a
feição original com o contemporâneo. Os arcos vão ficar num estado
espetacular”, garante o superintendente do Iphan.
Logo que os
arcos foram criados, há quase 150 anos, eles sequer serviam para ocupação. Porém,
isso mudou ao longo dos anos. Hoje, alguns dos comerciantes que ocupam os
imóveis dizem que suas famílias já estão ali há quase 100 anos.
Comerciantes que ocupam
arcos querem garantia de que retornarão
Entre os
comerciantes que ocupam os Arcos da Montanha, a preocupação é uma só: a saída,
que é uma das condições para o início das obras de requalificação. O
serralheiro José dos Santos, 57 anos, do Arco nº 6, tem medo de que, após o
período das obras, os comerciantes não possam retornar ao seu local de
trabalho.
“Se
alguém garante que vamos voltar, eles precisam documentar isso para provar que
a gente volta. De boca, não adianta”, diz. Por conta disso, alguns sugerem que
a saída dos trabalhadores seja feita por etapas.
“Os arcos
estão precisando. Nos últimos anos, ninguém nunca nem deu uma tinta. Se eles
ainda estão de pé, é porque nós conservamos bem. Então, tem que fazer a
reforma, mas se sairmos todos daqui, acho que ninguém deixa voltar”, lamenta a
marmorista Simone Venâncio, 34, que fica no Arco nº 12.
Além disso,
os comerciantes reivindicam que, durante as obras, sejam realocados para locais
onde possam trabalhar. “Se tivesse um galpão, outro lugar para ir, tudo bem.
Mas sair assim não é viável, porque não temos segurança”, afirma o serralheiro
Jorge Luís, 40, do Arco 16.
Através da
assessoria, a prefeitura — que é responsável pelo despejo e realocação dos
moradores — informou que não há nenhuma decisão tomada sobre o assunto.
Construídos
na segunda metade do século XIX, arcos da Ladeira da Conceição sofreram
mudanças ao longo do tempo e precisam de reforma. A última foi em 1991 (Foto: Reprodução/Iphan)
Projeto
do Iphan prevê modernização tanto das fachadas como dos espaços internos dos imóveis,
que terão novas instalações. Ideia é modernizar o espaço (Foto: Reprodução/Iphan)
Projeto
prevê instalação de escadas novas dentro de alguns arcos
(Foto: Reprodução/Iphan)
(Foto: Reprodução/Iphan)
Arcos
mais altos poderão receber até mezaninos durante a reforma
(Foto: Reprodução/Iphan)
(Foto: Reprodução/Iphan)
Ideia é unir
função original, de sustentação, com traço e uso modernos
(Foto: Reprodução/Iphan)
(Foto: Reprodução/Iphan)
Ocupantes aprovam reforma do local, mas temem não poder voltar
(Foto: Almiro Lopes)
(Foto: Almiro Lopes)
Repórter - Thais Borges ()