Foto: Ernesto
Carriço / Agência O Dia
IPHAN escolhe luta como representante do país
em pleito para bem da Humanidade
O Artigo 402 do Código Penal Brasileiro de 1890
previa detenção de até dois anos para quem praticasse o crime de “capoeirismo”.
Associado à vadiagem e à desordem, a mistura de dança e luta que hoje ganha o
mundo como ferramenta de inclusão social só foi descriminalizada em 1937,
depois que o então presidente Getúlio Vargas assistiu a uma apresentação.
Passados 77 anos, a expressão cultural nascida nas senzalas pode se tornar
Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco.
É o que espera o Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN), que escolheu a capoeira como representante
brasileira para eleição que será realizada em outubro, na França, para
selecionar novos bens imateriais da Humanidade. Como requisito, foi levada em
consideração a representatividade que a arte marcial assumiu em vários cantos
do planeta. No Rio, o Cristo Redentor já recebeu a mesma condecoração, em 2012.
Animados, capoeiristas veem a titulação com
esperança de maiores investimentos em projetos sociais e sonham com a inclusão
da capoeira como disciplina obrigatória na rede pública de ensino. Segundo o
Iphan, a necessidade de preservação da história foi um dos critérios levados em
consideração para a seleção.
“A capoeira merece esse título não somente pelo que
faz pelo Brasil, mas pelo poder de integração social que já mostrou ter mundo
afora”, disse o mestre Flávio Saudade, que há seis anos é contratado pela
Organização das Nações Unidas para ministrar aulas da arte marcial na Missão
Brasileira de Paz, no Haiti: “Não existe uma arte marcial praticada com tanta
alegria e que esteja presente tanto em campos de guerra quanto em academias na
Europa”.
Para o menino Anderson Ferez, de 8 anos, corda
branca da modalidade, por sua vez, a notícia soou com uma esperança. “Tomara
que com isso, a capoeira seja incluída nas Olimpíadas do Rio e eu possa
disputar”, disse, sem saber, porém, que a luta não poderá ser incluída a tempo.
Fonte:
Jornal O Dia (RJ) - 06-08-2014