Na semana em que se
comemora o Dia Internacional da Mulher, deve-se pensar e reconhecer o
protagonismo feminino na construção da diversidade cultural brasileira.
A diversidade cultural não está somente em documentos e relatos heroicos
de algumas personalidades. Na construção da cultura brasileira, a participação
das mulheres é uma nuance, muitas vezes, não percebida ou legitimada. Contudo o
reconhecimento de que o patrimônio pode estar contido no modo de se produzir o
acarajé, a renda ou no ofício típico das paneleiras de goiabeiras vem
transformando esse cenário e colocando a mulher como detentora e construtora de
História.
A transmissão de saberes feita pelas mãos, pelos cantos, pelo artesanato
e pela oralidade é capaz de construir relações culturais complexas, nas quais
coexistem materialidade e imaterialidade. Assim como as rendas, vai se tecendo
as manifestações que constroem a memória do país. Por isso, na semana em que se
comemora o Dia Internacional da Mulher (08 de março), deve-se pensar e
reconhecer o protagonismo feminino na construção da diversidade cultural
brasileira.
Algumas expressões, genuinamente, praticadas por mulheres como o Ofício
das Baianas do Acarajé, das Paneleiras de Goiabeiras (ES) e das rendeiras de
Divina Pastora (SE) já são registradas como Patrimônio Cultural do Brasil pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mostrando que
elas vêm adquirindo espaço nas estruturas sociais contemporâneas.
Ofício das Baianas de Acarajé
Com vestimentas brancas, enfeitadas com colares e panos coloridos, as baianas encantam os turistas com a alegria e o famoso tempero dos bolinhos feitos de feijão fradinho e fritos no azeite de dendê, o acarajé. É uma profissão feminina predominantemente, que indica, inclusive, a padronização de indumentária, zelando principalmente pela higiene na preparação e manuseio do alimento. Esse bem cultural de natureza imaterial foi inscrito no Livro dos Saberes em 2005 e seu ofício envolve rituais de produção, arrumação do tabuleiro, preparação da mesa e o uso de trajes próprios. Leia mais sobre o Ofício das Baianas de Acarajé clicando aqui.
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
A produção das panelas no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, foi uma atividade considerada Patrimônio Imaterial, inscrita no Livro de Registro dos Saberes, em 2002. Ela é eminentemente feminina e tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário. O fazer panelas de barro é um ofício familiar, doméstico e profundamente enraizado no cotidiano e no modo de ser da comunidade de Goiabeiras Velha. O processo de produção das panelas conserva todas as características essenciais que a identificam com a prática dos grupos nativos das Américas, antes da chegada de europeus e africanos. Leia mais sobre o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras clicando aqui.
O Modo de Fazer a Renda Irlandesa
Relacionado ao universo feminino e vinculado, originalmente, à aristocracia, a Renda Irlandesa surgiu como uma alternativa de trabalho, e hoje essa tarefa ocupa mais de uma centena de artesãs, além de ser uma referência cultural. O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora, Sergipe, foi inscrito no Livro de Registro dos Saberes, em 2009. Constitui um dos saberes tradicionais que foram resignificados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade. Leia mais sobre o Modo de Fazer a Renda Irlandesa clicando aqui.
O Patrimônio Imaterial Brasileiro
Todas as informações sobre os bens culturais registrados como Patrimônio
Cultural Brasileiro estão disponíveis no Banco de Dados dos Bens Culturais
Registrados, acessível pelo site do Iphan (clique aqui). São documentos
completos contendo todas as informações sobre Saberes e Práticas associados ao
Modo de Fazer. Eles estão agrupados por categoria e registrados em livros. O
Livro de Registro dos Saberes apresenta os conhecimentos e modos de fazer
enraizados no cotidiano das comunidades; o Livro de Registro de Celebrações
reúne os rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade,
entretenimento e outras práticas da vida social; o Livro de Registros das
Formas de Expressão destina-se às manifestações artísticas em geral; e Livro de
Registro dos Lugares, traz as feiras, santuários.
Fonte: Ascom - Iphan